Não me ligo em religião mas gosto da arquitetura das igrejas católicas, que só frequento em cerimônias de casamento, cada vez mais raras no meu ambiente. Mas há alguns dias entrei em uma e fiquei lá várias horas, curtindo uma mistura de espetáculos. Foi na igreja/museu dedicada a São Nicolau de Bari e São Pedro Mártir, que é conhecida como a Capela Sistina de Valência, com mais de 700 anos de história.

Três espetáculos simultâneos estavam sendo realizados: uma exposição interativa sobre a história do edifício e seu entorno, desde os tempos de Roma; uma interpretação audiovisual dos símbolos que caracterizam a figura de São Nicolau; e uma projeção de luz e som, “Homenagem à beleza”, que usa a tecnologia para exaltar a ornamentação barroca da igreja.

Quem não tiver oportunidade de conhecer a Capela Sistina do Vaticano e admirar as obras de Michelângelo, pode se contentar com a Capela Sistina de Valência, localizada no bairro El Carmem, no centro histórico, que tem belos afrescos pintados em sua nave central, dedicados à memória dos dois apóstolos, além de lindas cenas e imagens nos altares laterais. A visita é bem tranquila, nada do sufoco de disputar espaço com milhões de turistas, como no Vaticano.

Igreja de São Nicolau, a Capela Sistina de Valência

Muito bom conhecer Morella, uma vila medieval histórica no norte de Castellón, região de Valência. Difícil é encontrar uma cidade que não seja medieval por aqui! Todas reúnem história e belezas naturais em altas dosagens e com Morella não é diferente: tem castelo imponente no alto de um penhasco, muralhas centenárias ao redor da vila, um aqueduto do século XIV, e um centro histórico muito bem conservado, com igrejas góticas, pórticos e portais, casas no estilo solar com flores na sacada, ruas estreitas, muita escadaria, bares e restaurantes com excelente gastronomia, e muitos outros atrativos.

A região foi lar de dinossauros, presentes no ideário local ilustrando brinquedos, panos de prato, chaveiros, louça e toda sorte de objetos lúdicos ou decorativos. Estudos científicos patrocinados por universidades são destaque no Museu do Dinossauro. Além de todos os atrativos arquitetônicos e naturais, Morella também tem uma fantástica produção de queijos artesanais: compramos uns curados com trufa negra, maravilhosos.

Tivemos a sorte de encontrar a cidade em clima de festa, preparada para um festival que acontece a cada seis anos, em honra da Virgem de Vallivana, quando ocorrem muitas apresentações musicais e teatrais, além das famosas carreiras de bois. Enquanto passeávamos pelas ruas nos deparamos com um desfile de bonecos gigantes, acompanhados por uma bandinha (é, na Espanha também tem bonecos gigantes, não é só em Olinda que tem).

desfile de bonecos giganes

Com tanto pra ver e fazer, acabei retardando os posts sobre lugares que vi em agosto, quando iniciei minha viagem atual. Um deles é sobre a visita às lindas cidades-irmãs, Mora de Rubielos e Rubielos de Mora, localizadas na região de Teruel, há apenas 10 quilômetros uma da outra e há mais de mil metros acima do nível do mar. O território foi disputado por cristãos e muçulmanos, sendo reconquistado na Idade Média pelo rei cristão Alfonso II , o Casto. A família Heredia tornou-se a administradora do lugar no século XII, sendo responsável, entre outras coisas, pela construção da bela igreja em estilo gótico e do castelo, em Mora de Rubielos.

com minha filha em frente a igreja gótica

Visitamos o castelo, passeamos pelas ruas debaixo de um sol de 38 graus, e encontramos um ótimo lugar para almoçar o “menu del dia”, que incluiu aspargos verdes frescos (que eu amo e nunca encontro no Recife), vieiras, batatas, uma garrafa de vinho, pão, azeitonas e água. Tudo delicioso. Custou 20 euros por pessoa, o que é um preço muito bom na Europa. Também na vizinha Rubielos de Mora se encontra beleza, com seus portais, muros de pedra e inúmeras ermidas. Vale a pena visitar os dois lugares.

Quem resiste à doçura das receitas feitas com leite condensado? E o que dizer das gostosuras que merecem uma boa camada de ketchup? Mas para quem tem diabetes ou apenas quer evita o consumo de açúcar, sem deixar de saborear umas delícias, o jeito é se adaptar. Por isso ofereço algumas opções caseiras, simples e fáceis, para facilitar a vida com muito sabor:

RECEITA DE LEITE CONDENSADO DIET
1 xícara de água fervente
1 1/2 xícaras de leite em pó (pode ser desnatado)
1/2 xícara de adoçante em pó
1 colher de sopa de margarina ou manteiga
Bate tudo no liquidificador por cerca de 5 minutos, em velocidade média. Leva à geladeira para ganhar consistência.

CALDA SEM AÇÚCAR
1 xícara de adoçante em pó
½ xícara de água
1 colher de sopa de vinagre
Mistura numa panela, em fogo baixo, mexendo sempre. Quando ferver deve começar a criar uma crostinha; coloca-se mais água para dar um tom dourado ou amarronzado. Pode guardar na geladeira.

KETCHUP CASEIRO (para uma porção) 4 colheres de chá de extrato de tomate 4 c/c de adoçante culinário 3 c/c de vinagre (eu prefiro o de maçã) 1 c/c de sal. Mistura tudo muito bem em um recipiente, até ficar homogêneo.

Às vezes esquecemos detalhes dos acontecimentos porque não temos nenhum registro que nos faça lembrar. Podem ser acontecimentos simples, sem relevância suficiente para merecer um post, mas que de alguma forma enriquecem a vida da gente. Por isso, resolvi listar o que me acontece a cada semana, atualizando na segunda-feira. Pra começar faço um resumão das coisas de Agosto, a partir da minha chegada em Valência, no dia 11.

  • Sai do Recife no dia 10, em voo da Azul. Gostei da organização do embarque mas detestei a comida. Tinha muita gente bonita no voo, homens e mulheres.
  • Cheguei em Madri às 8h10. Depois da imensa fila da imigração encontrei minha filha e meu genro e fomos de carro almoçar em Cuenca, que fica a 200km de Valência, onde eles moram.
  • Conhecemos duas cidades medievais vizinhas, lindas: Mora de Rubielos e Rubielos de Mora, em Teruel. Na primeira visitamos o castelo e almoçamos o “menu del dia”. Tava um calor de 38 graus!
  • Visitamos a cidade medieval de Morella, em Castellón, muito linda, onde tivemos a sorte de encontrar um festival, que só acontece a cada seis anos. Tinha bonecos gigantes e bandinha de música desfilando. Compramos uns queijos curados com trufas negras, fantásticos.
  • Assistimos na TV “Nonnas”, um filme baseado em fatos reais, onde avós italianas cozinham pratos de dar água na boca.
  • Assistimos “Sing Stret”, sobre jovens de um lugar sem perspectivas, que formam uma banda.
  • Fomos ao bairro de Patraix, onde conheci o “Almuerzo Valenciano”, um sanduichão que substitui o café da manhã e o almoço.
  • Visitamos o "Mercado de la Imprenta", também no bairro de Patraix, onde funcionou uma impressora criada por José Vila em 1908, que agora é um mercado gastronômico.
  • Comi macarrão feito na máquina maravilhosa que minha filha e meu genro compraram, que faz vários tipos de massa: espaguete, cabelo de anjo, lasanha, tagliatelli e outros.
  • Caminhamos quase todos os dias com os cachorros, de manhã e de tarde, pela floresta.
  • Experimentei vários pratos veganos: molho à bolonhesa, galinha falsa (igualzinha) e hamburguer, tudo feito de soja, além de hamburguer de proteína de ervilha, de seitan, de brócolis, etc.
  • Também comi vários pratos com cogumelos frescos, de tipos variados, que não se encontram no Recife. Uma delícia a pizza.
  • Voltei a ler no kindle, embora prefira os livros impressos, mas é mais prático quando a gente viaja. Estou lendo “Beware the past”. Meu inglês é fajuto mas dá pra entender todo o contexto.
  • Estou estudando inglês diariamente pelo Duolingo. Minha meta é poder ver filmes no idioma original, sem legendas.
  • Assistimos muitos episódios da série espanhola "First Dates", em que casais tentam encontrar o amor.
  • Vi vários episódios da série "Chef’s Table", sobre grandes chefs do mundo. Um deles é o brasileiro Alex Atala.
  • Assistimos uma série muito boa de crime e suspense: "Dept. Q"
  • Visitamos a Igreja de São Nicolau e São Pedro Mártir, conhecida como Capela Sistina de Valência, onde havia um espetáculo de luz e som.
  • Cozinhamos geleia de figo, com açúcar e com adoçante, com os figos colhidos no quintal da casa.
  • Apesar do calor, resolvemos comer raclete no jardim de casa, olhando as estrelas.
  • Fiquei de porre dividindo três garrafas de vinho e mais de meia garrafa de Bailey’s.
  • Podei uma parte das plantas do jardim de casa.
  • Eu vi o gênio Leonardo da Vinci na fantástica exposição dos 500 anos de sua obra, no Museu da Ciência, na Cidade das Artes e da Ciência, uma obra monumental em Valência.
  • Minha filha, que é programadora, criou este blog pra mim. Estou obcecada, escrevendo todos os dias!

Cheguei no dia 11 de agosto em Madri, viajando pela primeira vez em voo da Azul, que recentemente incluiu duas rotas saindo do Recife: para Madri, na Espanha, e para Porto, em Portugal. Antes a melhor opção era viajar de Recife para Lisboa pela TAP, e de lá pegar outro voo, sendo mais cômodo ir direto para Valência, porque o aeroporto de lá está a apenas 15 minutos, da casa da minha filha. Mas essa opção se torna bem mais cara!

Assim, desembarquei em Madri às 8h10 e depois de passar por uma fila gigantesca de imigração seguimos de carro para Cuenca, uma cidade medieval da comunidade de Castilla-La Mancha, originalmente fundada pelos árabes no século XIII e declarada Patrimônio Mundial pela Unesco em 1996. Situada há mais de 900 metros acima do nível do mar e com temperatura média de 37 graus no verão (podendo chegar a 41), a principal característica de Cuenca é ter um conjunto de três casas “colgadas” (penduradas), sobre a foz do rio Huécar, em duas das quais funciona o Museu de Arte Abstrata . Também se pode visitar um castelo, muitos outros museus, ruas charmosas, bares e restaurantes. Almoçamos , passeamos e depois seguimos para Valência, a 200 quilômetros de distância.

casas penduradas sobre penhascos em Cuenca, na Espanha

Como é bom conhecer lugares diferentes, experimentar outros costumes, ver paisagens deslumbrantes, provar outra gastronomia, desligar dos problemas mesquinhos (ou apenas adiá-los).

Sempre aproveitei as oportunidades que se apresentaram de conhecer o mundo, e me arrependo de não ter me esforçado para ampliá-las, mas pude perambular por Buenos Aires (Argentina), Montevidéu (Uruguai), Assunção (Paraguai), Santiago, Viña del Mar, Val Paraiso, praia de Cachaua e montanhas de Valle Nevado (Chile), Paris e várias cidades do vale do Loire, visitando castelos (França), Lisboa, Sintra, Coimbra, Porto, Pontes de Lima, Tomar, Guimarães, Torres Novas, Mação e o Cabo da Roca (Portugal), Estocolmo (Suécia), Tallin (Estônia) e praticamente todos os estados brasileiros. Agora estou em Valência, na Espanha, pela quarta vez, com minha filha e meu genro, e logo irei a Itália, conhecer Roma.

A Espanha é bem grande, tem regiões diversificadas, com cidades que unem história e modernidade, “pueblos” medievais fascinantes, muitas praias, montanhas e até estações de esqui na época mais fria. Nas minhas andanças estive em cidades das Astúrias, da Galícia e da Catalunha, mas a atual onda de calor atrapalhou a vontade de ir até Andaluzia; fica pra outra vez. Da Espanha já conheci as cidades de Madri, Barcelona, Valência, Salamanca, Toledo, Segóvia, Ourense, Cangas, Santiago de Compostela, Óbidos, Ávila, Serra de Gredos e outras. Uma das experiências mais marcantes foi acampar nas montanhas, onde conhecemos lugares lindos, como Bulnes, onde se chega de funicular, e Potes, a 1800 metros de altura, em Picos de Europa.

na Galícia, em 2017

curtindo na Galícia

Conviver com meus "netos" é sempre uma aventura. Eu os reencontrei no dia 11 de agosto, quando cheguei em Valência, e vamos estar juntos até 3 de novembro, quando retorno ao Recife. Meus netos são especiais: Astro é um Golden Retriever de 12 anos, e Luna, uma fêmea de Galgo Espanhol de 7 anos. Ou seja, em idade de humanos meus netos cachorros têm, respectivamente, 89 e 57 anos. Astro já começou a apresentar os problemas típicos da velhice, como catarata, lentidão, um pouco de surdez e artrose. Agora é comum que escorregue nas patas traseiras, mas de forma geral está muito bem e ainda tem disposição para passear na floresta perto de casa e brincar de bola. Luna, que como todo galgo é uma caçadora capaz de correr a até 70km por hora, começou a ficar grisalha.

Eu me identifico bastante com meu neto Astro. Não só por nossos cabelos brancos como por nossa artrose insipiente. Também eu tenho problemas de articulação e dores de coluna e joelhos. Ambos somos comilões, abocanhamos os figos que crescem no quintal da casa e nunca rejeitamos um pêssego maduro (nem muitas outras frutas...).

Astro nasceu em Estocolmo, na Suécia, e foi adotado ainda bebê. Sempre foi um cão lindo e muito bem educado (na Suécia é obrigatório que os cachorros passem por um treinamento para poder conviver com as pessoas). Eu o conheci quando já tinha dois anos, e simplesmente me apaixonei. Luna foi adotada quando já tinha cerca de dois anos e meio, e hoje leva uma vida tranquila, depois de ter sofrido nas mãos dos criadores de galgos, que costumam abandonar os filhotes à própria sorte, sem comida nem abrigo. É uma cachorra bastante esperta, com a elegância de uma top model, característica da raça.

Todos os dias passeamos na floresta, e é uma luta para impedi-los de comer bagas de algarobas e pinhões, que eles adoram mas engorda muito.

Astro, Luna e eu, brincando no jardim

Numa taça alta, este drink pede um terço de cava (champanha valenciana), um terço de suco de laranja (tem que ser laranja bem doce), um terço de gim e vodca (estes dois últimos ingredientes podem ser em menor quantidade, ao gosto do freguês). Por fim, vários cubos de gelo e um gomo de laranja para dar mais charme.

Pensem numa delícia refrescante !

bebida super refrescante, tipica de Valência, feita com champanhe, gim, vodca e suco de laranja

Tomei uma taça desta maravilha num domingo ensolarado, no Café Lisboa, um bar super charmoso da cidade velha de Valência, onde fomos servidos por um simpático garçom italiano, enquanto ao nosso redor pessoas de várias nacionalidades curtiam alegremente a tarde valenciana, bebericando ao ar livre. Apenas alguns bares servem a fantástica Agua de Valência, essa invenção que me causa alegria instantânea.

um prato de macarrão com limão

Foi uma grata surpresa sentir o sabor da Pasta di Amalfi (macarrão à moda de Amalfi, região da Itália), feito com os ingredientes mais simples, que todo mundo geralmente tem na despensa: macarrão , limão, atum e alho. Eu nunca sequer cogitara que essa combinação de ingredientes pudesse ter um resultado tão bom.

Minha atual temporada com minha filha e meu genro está servindo para intensificar meu conhecimento da comida italiana, da qual somos os maiores apreciadores. Praticamente todos os dias cozinhamos algo como lasanha, macarrão, pizza, e outros pratos da cozinha da Itália.

Para a Pasta di Amalfi usamos macarrão cabelo de anjo, de sêmola, mas acredito que com outros tipos e espessuras também dê bom resultado. Enquanto a pasta cozinhava, misturamos numa tigela as raspas e caldo de um limão siciliano, dois dentes de alho ralados no ralo fino, uma lata de atum escorrido, quatro colheres de sopa de azeite extra virgem, meia xícara de queijo parmesão fresco ralado. Quem estiver fazendo, pode acrescentar um pouquinho da água do macarrão se achar que precisa deixar mais cremoso (essa dica da água é um costume das “nonnas” italianas para garantir um molho com brilho e textura). Depois de escorrer o macarrão, misturamos bastante a pasta e o molho, por fim, colocamos um pouco de salsinha por cima. Para acompanhar, vinho italiano, é claro. Sorvete de sobremesa, que o calor na Espanha, onde moram minha filha e genro, nesse dia estava beirando os 37 graus.

De agora em diante este prato faz parte das minhas comidas simples favoritas.