“Comida para guardar na memória”. Assim os chefs Javier Vega, Alex Duran e Blanca Martinez, do restaurante Memória Gustativa, apresentam o menu da casa. E eu sou testemunha de que eles cumprem o que prometem.

Uma das comemorações do aniversário de 41 anos de minha filha foi almoço no Memória Gustativa. O restaurante é pequeno, com poucas mesas e decoração com uns toques vintage. O ótimo atendimento e a comida criativa são as marcas registradas da casa, localizada na Rua Conde de Altea, 43, próximo ao centro histórico de Valência.

Estávamos em quatro pessoas (eu, minha filha, o marido e a sogra dela) e escolhemos o “menu degustación” de 11 pratos, que acompanhamos com duas garrafas de vinho tinto. O cardápio valoriza a cozinha mediterrânea e usa ingredientes comuns, como grão de bico, abobrinha, cebola, atum em lata, batata e outros, resultando em pratos elaborados, incrivelmente criativos. Esse tipo de cozinha, que moderniza os sabores e dá uma apresentação diferente a ingredientes tradicionais vem sendo adotada por muitos chefs, mas no caso do Memória Gustativa já lhe valeu indicações aos guias Michelin (The Fork Awards) e Repsol.

Um dos pratos mais interessantes para mim, servido no meio da refeição, tem aparência de sobremesa e passa por um pudim de leite com calda de caramelo, mas trata-se de um preparado de batata e ovo, com calda de cebola caramelizada. O chef Javier propôs que adivinhássemos os ingredientes, e eu consegui identificar a cebola, mais nada. Mas a brincadeira deixou o ambiente ainda mais descontraído. Recomendo a todos que tenham a oportunidade de ir a Valência, que não deixem de conhecer o Memória Gustativa.

prato que lembra pudim de leite

Milhares de estrelas sobre nossas cabeças, em qualquer direção para onde se olhe. A sensação de amplidão é indescritível e mesmo para mim, que não consigo reconhecer nenhuma constelação, é realmente magnífico.

Subimos a 1.300 metros de altura, em 22 de setembro, mesmo dia em que foi anunciado o início do outono na Espanha e as temperaturas começaram a cair. No cume de Aras de los Olmos, aproveitando que havia poucas nuvens, numa noite sem lua, eu, minha filha, o marido e a sogra dela, enfrentamos um frio de 10 graus para poder observar nossa galáxia, munidos de uma câmara fotográfica, operada por minha filha, sanduíches e uma garrafa de café.

Aras de los Olmos, na comunidade valenciana, é uma região que por estar bastante distante das cidades tem pouca contaminação de luz elétrica; o céu limpo e escuro torna o lugar um dos mais propícios do mundo para a observação estelar. Por isso mesmo lá estão localizados vários observatórios astronômicos, incluindo o da Universidade de Valência, planetários e outros equipamentos que atraem estudiosos da astronomia, além de muita gente que, assim como nós, gosta de apreciar as estrelas e constelações, favorecendo o astroturismo.

Céu estrelado em Aras de los Olmos

Um lugar super charmoso de Valência, situado a cinco minutos a pé do centro histórico, porém fora do circuitão turístico, é o “Mercado de la Imprenta”, que já foi um complexo de gráfica e editora e hoje é um espaço gastronômico, cultural e social, frequentado principalmente pelos moradores locais.

O mercado está localizado na simpática "Vila Imprenta" (Vila Imprensa), de bela arquitetura, nas proximidades da Praça de Espanha. O complexo familiar de gráfica e editora foi criado em 1908 pelo industrial das artes gráficas José Vila. Alguns equipamentos originais de impressão ainda podem ser vistos na entrada do grande salão, decorado com enormes placas restauradas que nomeavam as sessões de publicação, uma grande árvore no centro do espaço e mais de 20 quiosques, nos quais se podem degustar gostosuras valencianas e de outras regiões, além de vinhos, drinques e cervejas.

área central do mercado de la imprenta Estivemos lá algumas vezes, principalmente para tomar vermute e comer tapas.

De 1 a 7 de setembro:

  • Comprei o presente de aniversário da minha filha: uma mini impressora Fuji Instax Wide, um álbum para 80 fotos e papel para impressão. Ela amou. Já selecionamos várias fotos para imprimir.
  • Fiz um bolo diet de maçã, com aveia, uva- passa e canela: sucesso total.
  • Resolvi abandonar a manicure e fazer as unhas eu mesma. Ficou quase ótimo!
  • Caminhamos todos os dias com os cachorros.
  • Assistimos a temporada 2 de “Wednesday” (Wandinha).
  • Estudei inglês pelo Duolingo todos os dias: agora sei pedir comida em restaurante, assumir a vez de pagar a conta, dizer que não tem mais o prato desejado.
  • Aprendi a fazer ketchup sem açúcar, lendo um livro de receitas veganas. Super fácil.
  • A balança mostrou que perdi dois quilos desde que cheguei em Valência: estou com 61,6kg, resultado das caminhadas e dieta equilibrada.
  • Podei mais uma parte das plantas do jardim.
  • Fizemos hamburguer de falafel, ficou muitooooo bom.
  • Encontramos dois amigos brasileiros no Mercado de la Imprenta, depois comemos no Italiamos. Comida deliciosa. Bebemos bastante, porque fomos de metrô.
  • Cozinhamos uma lasanha fantástica, com ragu de soja, molho bechamel e muito queijo. Agora que aprendi com minha filha a cozinhar a carne de soja, decidi que, definitivamente, vou adotá-la no meu cardápio.
  • Finalmente minha filha usou o colar e brincos que eu trouxe de presente. Reclamou que não são do estilo dela, que é beeeem minimalista, mas ficou muito linda.
  • Customizei meu pijama rosa.
  • Fizemos raclete no jardim e tomamos vinho apreciando a lua cheia. Mas no domingo choveu e não deu pra ver a "lua de sangue".
  • Escrevi vários poemas nesta semana.

entregando o presente da minha filha, uma mini impressora

Os 25 anos da construção do Museu das Ciências, na monumental Cidade das Artes e das Ciências, em Valência, estão sendo comemorados até dezembro com a exposição imersiva “Leonardo da Vinci: 500 anos de gênio”.

Milhares de visitantes têm acesso às obras, muitas das quais podem ser tocadas. A mostra reúne 50 máquinas em grande escala, criadas a partir dos seus desenhos; as páginas originais do Código Leicéster, escritas da direita para a esquerda, detalhando ideias sobre medicina, engenharia, aviação, geologia, astronomia e outros temas; uma réplica de 360 graus da Mona Lisa, com análises de diversos estudiosos; e uma experiência sensorial de som e imagens em movimento, que remete à Florença, Veneza e Milão renascentistas.

Ficamos impressionados com as diversas facetas do italiano, desde a criação ou melhoria de armamentos (muitos dos quais serviram de inspiração à peças modernas de artilharia, como os tanques de guerra); estudos minuciosos da anatomia humana; inventos que deram origem a equipamentos usados na atualidade, como o escafandro, a prancha de surf, as asas delta e outros; além das pinturas, com destaque para a Mona Lisa.

Os visitantes também podem participar de brincadeiras, posando para seu próprio retrato de Mona Lisa; medir suas dimensões corporais, a exemplo de O Homem Vitruviano (o estudo das proporções corporais perfeitas); ou fazer uma classe de pintura.

Mariza posando de Mona na mostra sobre Leonardo da Vinci

Além desta, também é possível visitar as mostras permanentes do Museu das Ciências, com estudos sobre a Lua e sobre o planeta Marte.

Não me ligo em religião mas gosto da arquitetura das igrejas católicas, que só frequento em cerimônias de casamento, cada vez mais raras no meu ambiente. Mas há alguns dias entrei em uma e fiquei lá várias horas, curtindo uma mistura de espetáculos. Foi na igreja/museu dedicada a São Nicolau de Bari e São Pedro Mártir, que é conhecida como a Capela Sistina de Valência, com mais de 700 anos de história.

Três espetáculos simultâneos estavam sendo realizados: uma exposição interativa sobre a história do edifício e seu entorno, desde os tempos de Roma; uma interpretação audiovisual dos símbolos que caracterizam a figura de São Nicolau; e uma projeção de luz e som, “Homenagem à beleza”, que usa a tecnologia para exaltar a ornamentação barroca da igreja.

Quem não tiver oportunidade de conhecer a Capela Sistina do Vaticano e admirar as obras de Michelângelo, pode se contentar com a Capela Sistina de Valência, localizada no bairro El Carmem, no centro histórico, que tem belos afrescos pintados em sua nave central, dedicados à memória dos dois apóstolos, além de lindas cenas e imagens nos altares laterais. A visita é bem tranquila, nada do sufoco de disputar espaço com milhões de turistas, como no Vaticano.

Igreja de São Nicolau, a Capela Sistina de Valência

Muito bom conhecer Morella, uma vila medieval histórica no norte de Castellón, região de Valência. Difícil é encontrar uma cidade que não seja medieval por aqui! Todas reúnem história e belezas naturais em altas dosagens e com Morella não é diferente: tem castelo imponente no alto de um penhasco, muralhas centenárias ao redor da vila, um aqueduto do século XIV, e um centro histórico muito bem conservado, com igrejas góticas, pórticos e portais, casas no estilo solar com flores na sacada, ruas estreitas, muita escadaria, bares e restaurantes com excelente gastronomia, e muitos outros atrativos.

A região foi lar de dinossauros, presentes no ideário local ilustrando brinquedos, panos de prato, chaveiros, louça e toda sorte de objetos lúdicos ou decorativos. Estudos científicos patrocinados por universidades são destaque no Museu do Dinossauro. Além de todos os atrativos arquitetônicos e naturais, Morella também tem uma fantástica produção de queijos artesanais: compramos uns curados com trufa negra, maravilhosos.

Tivemos a sorte de encontrar a cidade em clima de festa, preparada para um festival que acontece a cada seis anos, em honra da Virgem de Vallivana, quando ocorrem muitas apresentações musicais e teatrais, além das famosas carreiras de bois. Enquanto passeávamos pelas ruas nos deparamos com um desfile de bonecos gigantes, acompanhados por uma bandinha (é, na Espanha também tem bonecos gigantes, não é só em Olinda que tem).

desfile de bonecos giganes

Com tanto pra ver e fazer, acabei retardando os posts sobre lugares que vi em agosto, quando iniciei minha viagem atual. Um deles é sobre a visita às lindas cidades-irmãs, Mora de Rubielos e Rubielos de Mora, localizadas na região de Teruel, há apenas 10 quilômetros uma da outra e há mais de mil metros acima do nível do mar. O território foi disputado por cristãos e muçulmanos, sendo reconquistado na Idade Média pelo rei cristão Alfonso II , o Casto. A família Heredia tornou-se a administradora do lugar no século XII, sendo responsável, entre outras coisas, pela construção da bela igreja em estilo gótico e do castelo, em Mora de Rubielos.

com minha filha em frente a igreja gótica

Visitamos o castelo, passeamos pelas ruas debaixo de um sol de 38 graus, e encontramos um ótimo lugar para almoçar o “menu del dia”, que incluiu aspargos verdes frescos (que eu amo e nunca encontro no Recife), vieiras, batatas, uma garrafa de vinho, pão, azeitonas e água. Tudo delicioso. Custou 20 euros por pessoa, o que é um preço muito bom na Europa. Também na vizinha Rubielos de Mora se encontra beleza, com seus portais, muros de pedra e inúmeras ermidas. Vale a pena visitar os dois lugares.

Às vezes esquecemos detalhes dos acontecimentos porque não temos nenhum registro que nos faça lembrar. Podem ser acontecimentos simples, sem relevância suficiente para merecer um post, mas que de alguma forma enriquecem a vida da gente. Por isso, resolvi listar o que me acontece a cada semana, atualizando na segunda-feira. Pra começar faço um resumão das coisas de Agosto, a partir da minha chegada em Valência, no dia 11.

  • Sai do Recife no dia 10, em voo da Azul. Gostei da organização do embarque mas detestei a comida. Tinha muita gente bonita no voo, homens e mulheres.
  • Cheguei em Madri às 8h10. Depois da imensa fila da imigração encontrei minha filha e meu genro e fomos de carro almoçar em Cuenca, que fica a 200km de Valência, onde eles moram.
  • Conhecemos duas cidades medievais vizinhas, lindas: Mora de Rubielos e Rubielos de Mora, em Teruel. Na primeira visitamos o castelo e almoçamos o “menu del dia”. Tava um calor de 38 graus!
  • Visitamos a cidade medieval de Morella, em Castellón, muito linda, onde tivemos a sorte de encontrar um festival, que só acontece a cada seis anos. Tinha bonecos gigantes e bandinha de música desfilando. Compramos uns queijos curados com trufas negras, fantásticos.
  • Assistimos na TV “Nonnas”, um filme baseado em fatos reais, onde avós italianas cozinham pratos de dar água na boca.
  • Assistimos “Sing Stret”, sobre jovens de um lugar sem perspectivas, que formam uma banda.
  • Fomos ao bairro de Patraix, onde conheci o “Almuerzo Valenciano”, um sanduichão que substitui o café da manhã e o almoço.
  • Visitamos o "Mercado de la Imprenta", também no bairro de Patraix, onde funcionou uma impressora criada por José Vila em 1908, que agora é um mercado gastronômico.
  • Comi macarrão feito na máquina maravilhosa que minha filha e meu genro compraram, que faz vários tipos de massa: espaguete, cabelo de anjo, lasanha, tagliatelli e outros.
  • Caminhamos quase todos os dias com os cachorros, de manhã e de tarde, pela floresta.
  • Experimentei vários pratos veganos: molho à bolonhesa, galinha falsa (igualzinha) e hamburguer, tudo feito de soja, além de hamburguer de proteína de ervilha, de seitan, de brócolis, etc.
  • Também comi vários pratos com cogumelos frescos, de tipos variados, que não se encontram no Recife. Uma delícia a pizza.
  • Voltei a ler no kindle, embora prefira os livros impressos, mas é mais prático quando a gente viaja. Estou lendo “Beware the past”. Meu inglês é fajuto mas dá pra entender todo o contexto.
  • Estou estudando inglês diariamente pelo Duolingo. Minha meta é poder ver filmes no idioma original, sem legendas.
  • Assistimos muitos episódios da série espanhola "First Dates", em que casais tentam encontrar o amor.
  • Vi vários episódios da série "Chef’s Table", sobre grandes chefs do mundo. Um deles é o brasileiro Alex Atala.
  • Assistimos uma série muito boa de crime e suspense: "Dept. Q"
  • Visitamos a Igreja de São Nicolau e São Pedro Mártir, conhecida como Capela Sistina de Valência, onde havia um espetáculo de luz e som.
  • Cozinhamos geleia de figo, com açúcar e com adoçante, com os figos colhidos no quintal da casa.
  • Apesar do calor, resolvemos comer raclete no jardim de casa, olhando as estrelas.
  • Fiquei de porre dividindo três garrafas de vinho e mais de meia garrafa de Bailey’s.
  • Podei uma parte das plantas do jardim de casa.
  • Eu vi o gênio Leonardo da Vinci na fantástica exposição dos 500 anos de sua obra, no Museu da Ciência, na Cidade das Artes e da Ciência, uma obra monumental em Valência.
  • Minha filha, que é programadora, criou este blog pra mim. Estou obcecada, escrevendo todos os dias!

Cheguei no dia 11 de agosto em Madri, viajando pela primeira vez em voo da Azul, que recentemente incluiu duas rotas saindo do Recife: para Madri, na Espanha, e para Porto, em Portugal. Antes a melhor opção era viajar de Recife para Lisboa pela TAP, e de lá pegar outro voo, sendo mais cômodo ir direto para Valência, porque o aeroporto de lá está a apenas 15 minutos, da casa da minha filha. Mas essa opção se torna bem mais cara!

Assim, desembarquei em Madri às 8h10 e depois de passar por uma fila gigantesca de imigração seguimos de carro para Cuenca, uma cidade medieval da comunidade de Castilla-La Mancha, originalmente fundada pelos árabes no século XIII e declarada Patrimônio Mundial pela Unesco em 1996. Situada há mais de 900 metros acima do nível do mar e com temperatura média de 37 graus no verão (podendo chegar a 41), a principal característica de Cuenca é ter um conjunto de três casas “colgadas” (penduradas), sobre a foz do rio Huécar, em duas das quais funciona o Museu de Arte Abstrata . Também se pode visitar um castelo, muitos outros museus, ruas charmosas, bares e restaurantes. Almoçamos , passeamos e depois seguimos para Valência, a 200 quilômetros de distância.

casas penduradas sobre penhascos em Cuenca, na Espanha