José,

Espero que você sinta muito remorso quando ler esta minha despedida... eu estou desolada, desesperada, infinitamente triste... sinto um peso enorme na alma, mas nem consigo mais chorar, as lágrimas não vêm aos olhos...estou asfixiada, minha garganta está travada, meu peito sufoca. Estou me afogando e não tenho ânimo para fazer nenhum esforço. Agora sei como é sentir doer o coração.

Não sei como pude ser tão ingênua, tão babaca, tão cega... Eu era feliz na minha ignorância, achava suficiente amar, ser inteligente, bonita, compreensiva, bom caráter, dividir as festas de família e os amigos, planejar viagens... o futuro parecia certo, aliás, eu nem pensava no futuro, achava que ele simplesmente chegaria: teríamos filhos, compraríamos uma casa, viajaríamos de férias, envelheceríamos juntos, sempre amorosos... e agora não tenho nada... Não quero ver ninguém, ouvir ninguém, não suportaria conselhos nem palavras de consolo... Só quero ficar sozinha com minha amargura imensa, minha tristeza, minha solidão, minha vontade de morrer.

Nunca pensei que tudo terminaria assim! Como foi que eu não percebi os sinais? E se tivesse percebido, seria possível impedir o que aconteceu? Fico remoendo tudo, dia após dia, todas as palavras, todos os teus passos, todas as evidências que estavam diante do meu nariz e eu tolamente não percebi, ocupada em te agradar, fazendo todas as tuas vontades...Você não foi capaz de dizer na minha cara o que estava se passando, foi omisso e covarde. Você não sabe o quanto eu lamento ter perdido minha juventude amando uma pessoa que não foi capaz de ser sincero comigo, de retribuir meus sentimentos com a mesma intensidade, de sequer ter consideração...

Nesse momento estou segurando os frascos de comprimidos que vão me libertar desse sofrimento. Espalhei na cama e contei, são mais de cem... Quero que você seja corroído pelo remorso, pois vou morrer por sua culpa. É tudo sua culpa… somente sua culpa!

Adeus

De 22 a 28 de setembro

  • Admiramos as estrelas e constelações em Aras de los Olmos, a 1.300 metros de altura. Foi no dia 22, abertura oficial do outono na Espanha, quando a temperatura começa a esfriar. Enfrentamos 10 graus na montanha, com ajuda de sanduíches e uma garrafa de café.
  • Com minha filha e a sogra dela, tive um dia ótimo no centro histórico de Valência. No Mercado Central tomamos vermute e sangria com jamon (presunto), queijo e azeitonas; depois passeamos pelas ruas ensolaradas e tomamos drinks no Café Lisboa e no Café de las Horas. Ambos têm um dos meus drinks preferidos: Água de Valência.
  • Terminamos de ver a quinta temporada de “Casamento as Cegas-Brasil”, a primeira dedicada a participantes com mais de 50 anos. O melhor de tudo foram os comentários dos observadores convidados, principalmente Luana Piovani, que provocaram muitas gargalhadas.
  • Esta semana saímos um pouco do cardápio vegetariano, graças à sogra da minha filha, que gosta mesmo é de peixe e de carne. Ela cozinhou filé de salmão e de atum, que comemos com salada verde; no outro dia fez umas costelinhas, com um gratinado de batata e couve-flor, com muito sabor, nham nham nham.
  • Perdi uma tarde tentando melhorar uma calça que acho frouxa, mas ficou apertada no quadril. Acabei desmanchando o que fiz e voltando à forma anterior.
  • Minha filha passou na prova teórica de direção. Comemoramos jantando fondue e eu bebi demais. De ressaca desisti de um passeio no sábado que incluía almoçar num restaurante italiano, e ela ficou decepcionada. Foi mal, filhota.
  • Começamos a ver a primeira temporada da série brasileira "Coisa mais linda". História do final de 1959/início dos anos 60, quando as mulheres começam a lutar contra a repressão que sofriam, e a bossa nova surge no Brasil. Recomendo.
  • Domingo estava inspirada para cozinhar. Preparei cuscuz com queijo coalho para o café da manhã e de almoço uma especialidade minha: sobrecoxa de frango na cerveja (que batizei de “galinha bêbada”), acompanhada de arroz com cenoura e salada verde.
  • Fechamos a semana com muita diversão, jogando o play station 5 com óculos de realidade virtual. O primeiro jogo (Ragnarock) foi navegando em um barco viking, impulsionado à medida que tocamos tambores para estimular os remadores, ao som de rock celta (viking power metal). O segundo (Synth Rider) é um jogo de ritmo estilo freestyle, que combina dança e boxe, num cenário futurista, com muitas cores.
  • Estamos com alerta de tempestades em Valência para esta semana. A madrugada do domingo foi de muita chuva, com relâmpagos e trovões bem em cima da casa, deixando os cachorros muito assustados. Ninguém dormiu direito.

“Comida para guardar na memória”. Assim os chefs Javier Vega, Alex Duran e Blanca Martinez, do restaurante Memória Gustativa, apresentam o menu da casa. E eu sou testemunha de que eles cumprem o que prometem.

Uma das comemorações do aniversário de 41 anos de minha filha foi almoço no Memória Gustativa. O restaurante é pequeno, com poucas mesas e decoração com uns toques vintage. O ótimo atendimento e a comida criativa são as marcas registradas da casa, localizada na Rua Conde de Altea, 43, próximo ao centro histórico de Valência.

Estávamos em quatro pessoas (eu, minha filha, o marido e a sogra dela) e escolhemos o “menu degustación” de 11 pratos, que acompanhamos com duas garrafas de vinho tinto. O cardápio valoriza a cozinha mediterrânea e usa ingredientes comuns, como grão de bico, abobrinha, cebola, atum em lata, batata e outros, resultando em pratos elaborados, incrivelmente criativos. Esse tipo de cozinha, que moderniza os sabores e dá uma apresentação diferente a ingredientes tradicionais vem sendo adotada por muitos chefs, mas no caso do Memória Gustativa já lhe valeu indicações aos guias Michelin (The Fork Awards) e Repsol.

Um dos pratos mais interessantes para mim, servido no meio da refeição, tem aparência de sobremesa e passa por um pudim de leite com calda de caramelo, mas trata-se de um preparado de batata e ovo, com calda de cebola caramelizada. O chef Javier propôs que adivinhássemos os ingredientes, e eu consegui identificar a cebola, mais nada. Mas a brincadeira deixou o ambiente ainda mais descontraído. Recomendo a todos que tenham a oportunidade de ir a Valência, que não deixem de conhecer o Memória Gustativa.

prato que lembra pudim de leite

Estou experimentando receitas que fazem melhor aproveitamento de ingredientes culinários que normalmente são descartados, como folhas, talos, cascas e sementes, que são super nutritivos e conferem ótimo sabor. Compartilho aqui minha experiência de um arroz de sushi, que adaptei para os ingredientes que eu tinha:

  • Cozinhar uma xícara de arroz (pode ser branco ou integral). Depois de pronto, enquanto o arroz ainda está quente colocar uma mistura de ¼ de xícara de vinagre de arroz e 2 colheres de chá de açúcar (pode ser adoçante culinário, para quem quiser restringir o uso de açúcar). Deixar esfriar.
  • Servir em tigelas ou pratos, com os acompanhamentos de sua preferência, que podem ser tiras de cenoura e pepino, brotos de soja, edamame, picles de gengibre, kanikama, pedacinhos de folha de alga Nori, abacate, atum (pode ser de lata), sunomono, folhas de cenoura e de beterraba, etc. Depende da preferência de cada um.
  • Por fim, cobrir com um molho feito de 3 ou 4 colheres de shoyu, 2 c/sopa de óleo tostado de gergelim, 2 c/s de vinagre de arroz, 2 c/s de Mirin, e 1 c/chá de pasta de pimenta chili. Colocar por cima sementes de gergelim (preto ou branco) para decorar.

Milhares de estrelas sobre nossas cabeças, em qualquer direção para onde se olhe. A sensação de amplidão é indescritível e mesmo para mim, que não consigo reconhecer nenhuma constelação, é realmente magnífico.

Subimos a 1.300 metros de altura, em 22 de setembro, mesmo dia em que foi anunciado o início do outono na Espanha e as temperaturas começaram a cair. No cume de Aras de los Olmos, aproveitando que havia poucas nuvens, numa noite sem lua, eu, minha filha, o marido e a sogra dela, enfrentamos um frio de 10 graus para poder observar nossa galáxia, munidos de uma câmara fotográfica, operada por minha filha, sanduíches e uma garrafa de café.

Aras de los Olmos, na comunidade valenciana, é uma região que por estar bastante distante das cidades tem pouca contaminação de luz elétrica; o céu limpo e escuro torna o lugar um dos mais propícios do mundo para a observação estelar. Por isso mesmo lá estão localizados vários observatórios astronômicos, incluindo o da Universidade de Valência, planetários e outros equipamentos que atraem estudiosos da astronomia, além de muita gente que, assim como nós, gosta de apreciar as estrelas e constelações, favorecendo o astroturismo.

Céu estrelado em Aras de los Olmos

De 15 a 21 de setembro:

  • A sogra da minha filha chegou da Suécia para passar um mês e meio conosco. Ela é simpática mas só fala sueco, então a comunicação é um problema, por isso estou usando o app do Google Translator. De presente ela trouxe duas iguarias da culinária sueca: Ox filé (que corresponde ao nosso filé mignon), que derrete na boca de tão macia, e a salada cremosa de camarão, típica de lá.
  • O app do Google Translator fica meio enlouquecido com a tradução sueco-português-sueco, às vezes diz coisas incrivelmente absurdas e "traduz" nossas risadas, com dezenas de hahahahaha. Isso produz mais risos e aí os hahahaha não param nunca!<br.>
  • Aniversário de 41 anos da minha filha, dia 16. Comemoramos em casa com almoço especial (receita de crepe francês com cogumelos fritos e Valdeón, um queijo azul do norte da Espanha) e com jantar no restaurante Saona, em La Canyada, lugar aconchegante, com um "menu de degustación" bastante farto. No sábado, 20, almoçamos no restaurante Memória Gustativa, em Valência, que tem indicação para o Guia Michelin, com “menu e degustación” especial, em que produtos simples são transformados pelos chefs em pratos super criativos.
  • Encontrei um par de tênis e um chinelo ultra confortável, que tinha esquecido na casa da minha filha há dois anos. Ambos estão ótimos e já recomecei a usar.
  • Assistimos "The naked gun" (Corra que a polícia vem aí), terceiro filme da franquia, com Liam Neeson e Pamela Anderson. A comédia de ação é realmente muito engraçada, no melhor estilo pastelão.
  • Conheci vários temperos japoneses usados por minha filha, que são servidos com sushi e outros pratos. Amei a alga Wakame. Vou adotar em minhas saladas.
  • Peguei outros livros nas estantes que encontro na vizinhança. Um deles é “O alquimista” de Paulo Coelho, em espanhol. Nunca li nenhum livro dele, então vou ver se gosto do estilo.
  • Assistimos a quinta temporada de "Casamento as Cegas - Brasil", com legendas em sueco para a sogra de minha filha poder acompanhar. Essa temporada é a primeira para participantes com mais de 50 anos.
  • Ganhei meu presente de Natal antecipado: escolhi um calendário de 2026, cada mês com uma foto de momentos da vida de meu neto cachorro, Astro, que já tem 12 anos.

De 8 a 14 de setembro:

  • As muriçocas de Valência são vorazes. Não à toa, elas são classificadas de muriçocas "tigre". Piores do que as do Recife. Estou fazendo um esforço enorme pra não me coçar, que é o que espalha o veneno e causa feridas. Haja Álcool de Romero pra aliviar a coceira.
  • Cozinhei feijão na panela de pressão elétrica. Não sabia como a panela funcionava, tive de pedir ajuda a minha filha. Rendeu pra fazer caldinho, sopa, hamburguer, purê e salada.
  • Preparei um monte de sunomono de pepino. Amoooo.
  • O tempo está mudando e a água da piscina já está bem fria. Mas quando faz sol dá pra botar o maiô e ficar sentada na borda, com um drink of course.
  • Meus netos cachorros reclamam se não forem passear. Mesmo com preguiça a gente tem de ir todo dia...Tudo bem, eu preciso mesmo caminhar.
  • A tecnologia facilita muito a vida da gente! Sentadinha no sofá paguei todas as minhas contas do Recife, de IPTU e IPVA a plano de saúde, condomínio, cartão de crédito, etc.
  • Postei no blog minha receita de bolo diet de maçã.
  • Terminei de ler “Beware the past” no kindle. É uma boa história, mas tem trechos que não acrescentam nada à trama. Aliás, a prolixidade costuma ser um defeito de muitos autores.
  • Levamos meus netos ao veterinário. Os dois estão muito bem de saúde. Nenhum drama.
  • Assistimos “La viuda negra”, filme espanhol com Carmem Machi no papel da policial que resolveu o caso real de uma mulher que convenceu um dos quatro amantes a matar seu marido. A história se passou no vizinho bairro de Patraix, em Valência, o que despertou ainda mais nosso interesse. Os dois foram condenados e estão cumprindo pena.
  • A pizza feita por meu genro é digna de prêmio. Ele tem uma pedra no tamanho exato do forno, própria para assar pizza, que dá um toque especial a cada uma. A de cogumelos é fantástica.
  • Comecei a ler “Nuevas aventuras de Sherlock Holmes”. Peguei o livro de uma biblioteca improvisada na frente de uma residência, no estilo “pegue um e deixe outro". (foto)
  • Assistimos a versão 2024 de “N.osferatu”. Não gostei. O filme tem diálogos falsamente psicológicos, que buscam dar profundidade ao drama da mulher atraída pelo sobrenatural. A protagonista vomita e se contorce como Linda Blair em O Exorcista, de 1973! O filme não me convenceu e ainda deixou uma sensação de perda de tempo.
  • Fizemos um arroz de sushi em que usamos folhas de cenoura como um dos ingredientes. Elas são super nutritivas e de baixas calorias, vale a pena incluí-las na alimentação.
  • Trouxe do Recife uma blusa branca com detalhes de renda Renascença, que não ficou legal. Fiz umas mudanças e agora está usável. Não dá pra perder roupas por bobeira, né.

biblioteca improvisada no bairro

Sempre me incomodou o desperdício alimentar. Por isso comecei a experimentar receitas que fazem uso de folhas, cascas, talos e sementes de frutas e verduras, que normalmente as pessoas descartam por falta de conhecimento sobre a riqueza nutricional e o sabor que podem conseguir no preparo de pratos saudáveis e econômicos.

Em geral somos adeptos de um consumo excessivo, dominado por produtos ultra processados. Nosso país é um dos maiores produtores de alimentos do mundo e tem imensa variedade de frutas, verduras e grãos, mas o desperdício chega a cerca de 30% de toda a produção nacional, e boa parte dessa perda ocorre na cozinha de casa.

Quem quiser romper esse ciclo econômico e acrescentar saúde à alimentação diária, pode consultar sites onde inúmeros chefs ou simples donas de casa compartilham suas receitas e dão dicas de aproveitamento. As folhas e talos em geral podem ser usadas em sushi, salada, pesto, sopa e outros preparos. As cascas podem virar bolo, pudim, suco, mousse e, assim como algumas sementes, entrar também em pratos salgados.

Exemplo de salada com ótimo aproveitamento de folhas e talos Foto de Marta Filipczyk na Unsplash

capa do livro Beware the past

Yes, acabei de ler no kindle “Beware the past”. Meu inglês é fuleiro, mas consegui. Foi demorado e difícil porque só leio no kindle quando viajo, pela praticidade e economia de espaço; prefiro os livros impressos, daí demoro um tempão entre os capítulos. Também como não tenho vocabulário suficiente em inglês, mesmo compreendendo o contexto geral tenho de parar várias vezes para pesquisar o significado das palavras mais difíceis.

Tem outro motivo, talvez o principal: embora seja uma boa história de crime, “Beware the past” tem muitos trechos com detalhes que nada acrescentam à trama. Aliás, a prolixidade é um defeito comum em inúmeros autores, que se perdem em divagações, geralmente aborrecidas. Também é questionável o perfil do personagem principal, o inspetor policial Mathew Ballard, atormentado pelo passado, que parece ter dificuldade de tomar decisões e está sempre à beira das lágrimas.

A autora, Joy Ellis, é um sucesso no Reino Unido com suas histórias de crime. Ela já publicou mais de 25 livros, incluindo uma série com o mesmo personagem. Ainda não sei se terei ânimo de ler algum...talvez valha a pena para melhorar meu vocabulário em inglês...sei lá.

Um lugar super charmoso de Valência, situado a cinco minutos a pé do centro histórico, porém fora do circuitão turístico, é o “Mercado de la Imprenta”, que já foi um complexo de gráfica e editora e hoje é um espaço gastronômico, cultural e social, frequentado principalmente pelos moradores locais.

O mercado está localizado na simpática "Vila Imprenta" (Vila Imprensa), de bela arquitetura, nas proximidades da Praça de Espanha. O complexo familiar de gráfica e editora foi criado em 1908 pelo industrial das artes gráficas José Vila. Alguns equipamentos originais de impressão ainda podem ser vistos na entrada do grande salão, decorado com enormes placas restauradas que nomeavam as sessões de publicação, uma grande árvore no centro do espaço e mais de 20 quiosques, nos quais se podem degustar gostosuras valencianas e de outras regiões, além de vinhos, drinques e cervejas.

área central do mercado de la imprenta Estivemos lá algumas vezes, principalmente para tomar vermute e comer tapas.