A sogra de minha filha virou minha amiga, apesar da barreira quase intransponível da língua: ela só fala sueco. Eu me viro bem no espanhol (ou portunhol, como queiram) e um tantinho no inglês, mas não o suficiente para manter uma conversação.

Eu a tinha visto apenas em duas ocasiões: quando passei férias em Estocolmo, em 2012, fizemos uma visita rápida à casa dela; e em 2015 jantamos em um restaurante, quando minha filha traduziu todas as falas. Mas agora ficamos juntas por mais de 30 dias, em Valência, e traduzir o tempo todo se tornaria exaustivo para minha filha. Tentei solucionar o problema apelando para o modo de conversação do aplicativo Google Tradutor. O app funcionou apenas em parte. Às vezes, uma de nós dizia uma frase ou um parágrafo inteiro, e só uma parte era traduzida. Outras vezes, com bastante frequência, a tradução estava completamente errada, de forma incrivelmente ridícula. A gente começava a rir e o aplicativo simplesmente transcrevia a risada e a repetia em voz alta: "HA HA HA". Aí a gente ria ainda mais, e o app enlouquecia, repetindo "HA HA HA HA HA HA" centenas de vezes. Resultado: nem nós nem o robô conseguíamos parar de rir. Por causa disso desistimos do tradutor e passamos a nos comunicar pelo velho e universal método da mímica, com longos silêncios e muitos brindes na piscina, durante outubro, quando o calor estava beirando os 30 graus. Só durante as refeições, com a participação da minha filha e meu genro, havia tradução português-sueco-português.

Tentei convencê-la a estudar inglês, para ter o mínimo de chance de podermos trocar algumas palavras, e parece que ela está usando o Duolingo. Apesar de tudo, durante essa temporada tivemos muitos momento divertidos, principalmente quando o vinho ajudava a quebrar a barreira da linguagem, e é provável que a gente se encontre de novo para comemorar juntas nosso aniversário de 75 anos, em 2026. eu e minha amiga sueca

De 3 a 9 de novembro:

  • Estou de volta ao Recife. Sai do hotel em Madri às 7h da manhã: frio de 6 graus e ainda escuro. Embarquei às 10h40 (horário de inverno, são 4 horas a mais que no Brasil) e após 8h de um voo super cansativo cheguei no Recife às 15h, onde fui recebida pelos irmãos e irmãs e os 29 graus habituais de calor.
  • Encontrei a casa arrumada, mas tive de botar tudo do meu jeito com uma faxina caprichada, e lavar todas as roupas para tirar o cheiro de guardado de três meses de ausência.
  • Paguei as contas, marquei o dentista e a manicure, e fui buscar meu carro, que ficou guardado na casa de minha irmã, onde tem mais segurança do que no meu prédio.
  • Depois de três meses de Europa o paladar fica “gourmetizado”, né. Resultado: me danei a comprar cogumelos frescos, morangos congelados, salmão, vinho italiano, queijos chics, mexilhão e o escambau. Tudo caro pra dedéu...Pra dar uma equilibrada aterrizei no feijão verde com calabresa, cuscuz, farofa, charque, queijo coalho e todas as gostosuras nordestinas.
  • O primeiro encontro do Clube do Livro , que seria no dia 8, foi pro beleléu: uma pessoa teve de operar o joelho, outra teve de dar aula, outra viajou a trabalho, e outra, ainda, não confirmou presença. Adiamos.
  • Assisti a série “Animal”, na Netflix, sobre um veterinário do campo cheio de dívidas, que acaba trabalhando numa clinica urbana cheia de frescuras, onde tem inúmeras dificuldades de adaptação.
  • Bati minha meta de 550 dias seguidos de estudo de inglês pelo Duolingo. A próxima a alcançar os 700 dias.

Não sou vegana, mas amei o molho à bolonhesa feito por minha filha usando proteína texturizada de soja (PTS), que serve bem com espaguete e com lasanha. Tratei de pegar a receita, que foi adaptada do Food.com. Além de bonito e gostoso o prato é econômico e rápido de fazer: apenas cerca de 30 minutos. A receita serve bem a seis pessoas, usando 500 gramas de massa.

Ingredientes do molho:

2 colheres de sopa de azeite; 1 cebola picada; 1 cenoura em cubos pequenos; 2 dentes de alho picados; 3 colheres de sopa de ervas secas (mistura de manjericão, orégano e tomilho ou alecrim); 1 folha de louro; 1 colher de chá de pimenta calabresa; 1 xícara de proteína de soja seca (não reidratada); 2 ou 3 colheres de sopa de molho de soja; 1 xícara de vinho tinto ou caldo de legumes; 1 lata de extrato de tomate concentrado; 1 lata de 400g de tomates pelados; 1 colher de sopa de páprica defumada.

Preparo do molho:

  1. Em uma panela grande, aqueça o azeite em fogo médio. Adicione a cebola e a cenoura e refogue por cerca de 5 minutos, até a cebola ficar translúcida. Adicione o alho e refogue por mais 1 minuto, até perfumar.
  2. Adicione uma pitada de sal, as ervas secas e a pimenta calabresa. Misture bem. Se a panela parecer seca, coloque mais um pouco de azeite.
  3. Adicione a proteína texturizada de soja, seca, e mexa bastante para envolver todos os ingredientes uniformemente.
  4. Adicione o molho de soja, mexa, adicione o extrato de tomate, mexa, adicione a páprica defumada, mexa.
  5. Adicione o vinho tinto (ou caldo de legumes), mexa e deixe ferver em fogo baixo por cerca de 5 minutos.
  6. Adicione os tomates em lata (amasse com uma colher de pau). Misture bem. Cozinhe em fogo baixo, de 10 a 15 minutos. Está pronto o molho.

Para o espaguete: Cozinhe ao dente e antes de escorrer a massa reserve uma xícara da água do cozimento. Misture a massa com cerca de metade do molho, cobrindo bem todos os fios. Se o molho não estiver cremoso, adicione aos poucos a água reservada, o quanto baste para ficar soltinho e brilhante. Monte os pratos, cubra com o molho restante e finalize com queijo parmesão ralado na hora.

Para a lasanha: Pode acrescentar mais uma lata de molho de tomate ao preparo da carne, para ter uma lasanha bem "molhuda". Amasse o tomate pelado com uma colher de pau. Com a massa cozida (ou a pré-cozida), forre o fundo de uma travessa de molho e faça camadas alternadas de massa, molho e queijo, finalizando com uma de massa. Cubra a última camada com molho bechamel e bastante queijo mussarela e leve ao forno. Bom apetite!

Gente, meu paladar tá ficando mais refinado... aprendi com minha filha a fazer um molho de vinho tinto, que é maravilhoso. A receita original é sueca, ela adaptou aos produtos da Espanha, onde mora, e eu adaptei aos ingredientes do Recife, ora essa. A receita rende 4 porções generosas.

Ingredientes: 1 cebola (branca ou roxa); 1 colher de sopa de manteiga; 1 colher de chá de açúcar; 1 colher de sopa de purê de tomate ou tomate picado); 1 pitada de tomilho seco (ou alecrim ou orégano); 250ml de vinho tinto; 250ml de água; 1 cubo de caldo de carne; 1 colher de chá de amido de milho; Uma pitada de pimenta-do-reino.

Modo de preparo: Pique bem a cebola. Derreta a manteiga e refogue a cebola e o tomilho, junto com açúcar e o purê de tomate. Adicione o vinho tinto e cozinhe em fogo baixo por 5 minutos. Adicione a água e o cubo de caldo de carne. Mexa até o cubo dissolver. Deixe cozinhar por cerca de 15 minutos em fogo médio. Coe o molho para remover os pedaços de cebola e tempere com um pouco de pimenta-do-reino. Despeje de volta na panela. Misture o amido de milho com 1 colher de sopa de água fria e despeje no molho. Mexa até o molho engrossar. Sirva (fica ótimo com carne).

De 27 de outubro a 2 de novembro:

  • Última semana em Valência, hora de preparar a volta para o Recife:
  • Fiz as unhas. As das mãos ficaram razoáveis, mas não pude fazer as dos pés: elas são encravadas e estão doendo. Preciso marcar um podólogo no Recife.
  • Encontrei uma tintura especial para sobrancelhas. Amo meus cabelos brancos, mas as sobrancelhas precisam ser escuras para dar um contraste legal. Pintei de castanho.
  • Comprei presentes para as irmãs e irmão que ficaram zelando por meu carro, meu apartamento e minhas plantas. Eles são incrivelmente prestativos e amorosos.
  • Assistimos o último episódio de “Murders in the Building”. Pena que não tem no Netflix, porque já foi anunciada a 6a temporada, com episódios filmados em Londres.
  • Também assistimos episódios super divertidos de “Seinfeld”. A série é muito antiga, mas continua sendo um ótimo passatempo.
  • Ganhei da minha filha dois cadernos de colorir e caixa de lápis com 36 cores. Os desenhos são incrivelmente detalhados, acho que só termino lá pra 2027 ou 2028...
  • Almocei com minha filha no “Habitual” um menu de degustação. O restaurante tem estrelas Michelin e Repsol. Fica no Mercado Collon, que era um mercado público e foi transformado em centro gastronômico. Depois encontramos uma prima e tios da minha filha, numa vermuteria muito simpática no bairro de Ruzafa.
  • Na sexta-feira de noite os parentes foram comer paella de frutos do mar, feita por minha filha, e conhecer a casa dela em La Canyada. Ela se garante, cozinha muito bem. Tomamos vermute e bastante vinho.
  • No sábado passamos o dia com os parentes, nos despedindo do centro histórico. Foi muito divertido.
  • Eu e minha filha fomos de trem para Madri, porque meu voo para o Recife saiu de lá. Chegamos no domingo, perto do meio-dia. Visitamos o mercado central (amo mercados) e o jardim do palácio real, comemos pintchos e croquetas na Plaza de Espanha e jantamos em um restaurante vietnamita. Depois dormimos no hotel Ópera. Eu embarquei às 10h40 (horário local) e ela voltou de trem para Valência.